terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Então você veio, Andarilho."

“Então você veio, Andarilho. De todos os que morreram nos Portões, o que eu esperava que sobrevivesse era você, e cá estamos. Você teve um caminho difícil, porém este não o enfraqueceu, apenas o deixou mais forte. Eu posso sentir em você a Chama Imperecível. Seu manto escarlate brilha como os sóis vermelhos das Terras Esquecidas. Mas você ainda tem muito a aprender, então eu serei sua voz e sua consciência, enquanto você ainda não tem sua própria voz. Preste atenção, pois o tempo é um luxo que há muito se esgotou nas ampulhetas de todos, e as areias agora vagam pelos ventos gelados. Não que os ventos gelados sejam um problema pra você, não acredito que sentirá frio novamente. Vamos. Está na hora de você se mostrar para os demônios, e mostrar que os Portões foram apenas o começo.”

...

Três dias eu busquei pela cidade de pedra alguém ou alguma coisa que me mostrasse onde ir, e foi num sonho que encontrei, enquanto dormia numa pequena estalagem com camas tão duras quanto o pão que serviam, e luzes tão ralas quanto o vinho que era deixado em uma jarra de barro ao chão.

Primeiro foi como um sussurro em meus pensamentos, depois ele falou comigo num sonho. Era uma figura no mínimo curiosa, trajando uma capa sobre um gibão de couro puído, seus cabelos eram curtos, e seu bigode enrolado nas pontas emoldurava um sorriso matreiro de muitas vigarices, estas que mais tarde fiquei sabendo. Seu nome era Arka Vaulgeon, e ele era um mago de truques baratos, trapaceiro e brigão, sempre brandindo o arsenal mais afiado de insultos elegantes e velados, que deixava até mesmo o mais escolado nas palavras confuso e perdido.

Tudo isso fiquei sabendo por sua mágica, que ele usava para me contar coisas como uma voz em minha mente, sua arte mais refinada, usada para ganhar apostas e confundir vendedores. E este seria meu professor na Língua Geral e meu guia.

Começo a me arrepender de não ter ficado caído nas montanhas.

Tenho a forte sensação de que esse rufião desmiolado ainda vai me levar aos braços da morte, e dessa vez sem volta.