sábado, 14 de maio de 2011

Para onde vai o vento frio

O vento não soprava mais, porém isso não me eximia do frio.

Sim, frio.

Dizer que jamais senti frio assim não é o bastante para descrevê-lo. A cada respiração podia sentir meus pulmões congelando, e ao intervalo de cada batida de meu coração, sentia o gelo se partir e novamente congelar, de modo que o sangue estilhaçava a cada pulsar que outrora me traria calor.

Mas não há mais calor, ou fogo.

Era isso que Ela me fazia com Seu olhar.

E não mais podia chamar de vida o que sentia, pois Ela estava lá para me buscar. Não havia mais vida, apenas o frio.

Alva face me encara, porém apenas depois de paralisar-me pelo frio a noto. Se havia um sorriso ou esgar de surpresa, desaprovação ou contentamento, não pude perceber naquele momento. Era uma face de um olhar, alvo como neve, mas infinitamente mais gelado.

Tudo me intrigava, apenas. Minha estupefação foi quando me tocou o rosto com Sua igualmente alva mão. Era fria, mas não como Seu olhar. Havia um consolo naquele toque, mesmo que um consolo frio. Lamentava por mim, se compadecia, mas não havia escolha. Eu devia estar ali, mesmo que o olhar consolador Dela dissesse o contrário, e nem mesmo meu constante ímpeto de caminhar me levaria para longe de seu olhar, de seu toque, quanto mais daquele frio.

Sim, daquele frio.

Se houvesse forma de marcar o tempo, uma era não caberia naquele toque... Tudo se arrasta... Então o toque tem seu fim e eu caio. Queda sem fim. Cair sem ter aparo ou amparo. Não sinto. Não sou. Mas vou. Sempre para baixo.

Abro meus olhos e meu sangue amarga em minha boca com a poeira. Pedras. Volto.

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